terça-feira, 28 de setembro de 2010

Karate Kid ou "Como ensinar A VERDADE aos chineses"


Como boa parte das pessoas da minha idade, eu sou fã de Karate Kid. A trilogia orginal com Pat Morita e Ralph Macchio - que depois virou roteirista de HQs, carreira pra qual tem tão pouco talento quanto pra ator - foi lançada no mesmo ano em que eu nasci. Qual não foi minha supresa ao saber que seria refilmado 25 anos depois?

Obviamente hoje faz mais sentido que seja kung fu kid, devido ao sucesso de astros do cinema chinês em Holywood. Melhor ainda poder aproveitar os lindos cenários e os imensos capitais chineses. Então, façamos logo o politicamente correto, coloquemos um astro chinês e o filho de um astro negro.

Não lembro dos detalhes do primeiro filme, mas não recordo de nenhuma conotação ideológica tão explícita como a da refilmagem. O drama girava em torno de dois indivíduos deslocados que encontravam, na amizade (com aspectos paternos) e na filosofia das artes marciais, uma linha pro recomeço de suas vidas. Somava-se a isto a afirmação de um karate original contra o karate violento e sem espírito das forças armadas desalmadas dos EUA, com uma sutil crítica à Guerra do Vietnã e ao massacre japonês na Segunda Guerra. Não era isso?

E o que isso virou no Kung Fu Panda, ops, Kung Fu Kid??? Um garoto e um velho deslocado encontram, na amizade (com aspectos paternos) e na filosofia das artes marciais, uma linha pro recomeço de suas vidas. Até aí tudo igual menos o tempo verbal! Mas a diferença vai muuuito além da gramática! Vejamos:

Um menino negro muda dos EUA para Beijing porque sua mãe é uma estadunidense qualificada para trabalhar no mercado chinês em expansão, enquanto na sua terra natal a situação é de crise. Lá encontra filhos da elite chinesa, é rejeitado e espancado por um coletivo de meninos que vestem uniforme vermelho e seguem um mestre duro, indisciplinado e covarde. Recorre à superação individual com o auxílio de outro indivíduo completamente isolado, este sim, o único trabalhador do filme, vive na merda.

Pra cortar, no campeonato o menino enverga a tradicional veste e representa o verdadeiro kung fu, enquanto os outros são crianças de trajes muito parecidos corromperam o “verdadeiro” espírito individualista da arte marcial ao obedecerem ao líder despótico.

No fim, é claro, ganha o menininho dos EUA, mostrando que um individualismo à moda oriental é O caminho pra China. Não satisfeito com isto, o filme apela ainda mais! Condena a ação coletiva dos alunos chineses, que lutam por equipe. Mas estes se recuperam, quando, após a derrota, renegam seu mestre e prestam reverência ao “verdadeiro” mestre do kung fu, que, coincidentemente, veste um uniforme com as cores da bandeira estadunidense.

Assim, o gigante chinês, um dia resistente, percebe que O caminho é aquele dos EUA, abandonando a via “totalitarista” de uma ideologia ultrapassada, mas não tão antiga quanto o individualismo da natureza humana.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Direto Trabalhista e Direito de Propriedade para Direita Ruralista Brasileira

Notas sobre a entrevista da Sen. Kátia Abreu (DEM-TO) na Veja de 28 de Abril de 2010.

Não acho que ainda existam dúvidas sobre o caráter classista de direita da Veja. Criticá-la já é, para a esquerda, chutar cachorro morto, mesmo que ainda seja provavelmente a mídia escrita mais influente do país. Se fosse uma matéria eu não perderia meu tempo sequer lendo, mas quando vi a chamada para a entrevista das amarelas menos em cima do muro da história, tive que fazer o sacrifício.

Há muito já queria ler algo sobre a Sen. Kátia Abreu, líder da bancada ruralista, que conhecia de conversas sobre os ataques ao MST. Mesmo com todas essas referências sobre a revista e a entrevista, ainda me surpreendi com o destaque da primeira página: “A norma usada pelo governo para definir trabalho escravo é uma punição à existência da propriedade privada no campo”. Caramba, chegaram a este nível?!?!? Atacar o trabalho escravo é atacar a propriedade privada no campo, achei que essa carta já tinha saído das mãos da direita desde a crítica à Declaração de Independência dos EUA. Pode isso, Arnaldo?!?!

Por essas e outras, fiz questão de fazer uma leitura mais atenta da entrevista.

A entrevista orbita em torno de dois argumentos/críticas principais: 1) a forma errada de se ver a produção do campo brasileiro, que, segundo ela, não está voltada para exportação e sofre com a supervalorização da pequena propriedade familiar, prejudicando tanto o agrobusiness quanto os médios produtores; 2) há problemas sérios na legislação voltada para o campo e no seu cumprimento, que prejudicam o desenvolvimento do setor.

A primeira questão aparece menos na entrevista de três páginas, cujas perguntas direcionam-se para os assuntos mais interessantes para a revista, a manutenção da propriedade privada e a crítica ao governo Lula em época de eleição. Ainda assim, sobra espaço para a senadora acusar o IBGE de produzir um censo agrário cheio de “informações falsas, desonestas, distorcidas por razões puramente ideológicas”. Isto para fazer com que a pesquisa aponte os pequenos produtores como responsáveis pelo sustento da produção nacional e aumentar a proporção do crédito concedido a eles em relação àquele oferecido à grande empresa ou agronegócio. A solução implícita é aumentar os incentivos à grande propriedade, já que ela é, muitas vezes prejudicada, como mostrado na afirmação de que “existe propriedade pequena no Paraná que é muito mais produtiva e rica do que uma grande fazenda no Centro-Oeste". Além disso, as informações equivocadas do IBGE dão prejuízo ao setor, porque não se pode fazer planejamento estratégico de investimento em cima de previsões falsas”.

Engraçado, mas a senadora associa a propriedade privada unicamente ao agronegócio quando afirma que desmoralizar este é atentar contra aquela. Há, na verdade, uma distorção genial em sua fala, quando ela afirma que o governo atual “acredita apenas no coletivo e não admite a produção individual, privada”. Então quer dizer que a produção do agronegócio não só é privada como individual??? A utilização do vocábulo “privado(a)” é historicamente recorrente na relação de apropriação do trabalho, mas identificar o processo produtivo (e não o seu resultado) de um latifúndio com um indivíduo é demais!

Como eu disse, a propriedade privada é o assunto principal da entrevista. Somados, vocábulos como “propriedade”, “proprietário”, “privado(a)” e “privatização” aparecem, separados ou conjugados, 16 vezes nas três páginas, ganhando de longe do segundo grupo semântico, que envolve palavras como “escravo”, “escravocrata” e “escravização”, que aparecem a metade das vezes. Tudo isso pra mostrar o quanto os proprietários – e não os despossuídos – são os verdadeiros prejudicados no Brasil.

O prejuízo dos proprietários é decorrente das políticas de um governo que, para a senadora, é indiscutivelmente de esquerda. Não só de esquerda, mas “radical”, “xiita”, “fundamentalista” e “saudosista”. Tal governo mantém uma constante “insegurança jurídica” ao não agir energicamente contra as invasões no campo, que são atos “terroristas” do “crime organizado” e que devem ser combatidos com a mesma intensidade que o tráfico de entorpecentes, por exemplo.

O legalismo só pode ser ferramenta de uma classe dominante, já que ela é quem tem a hegemonia no processo de institucionalização das leis. Neste caso, não é surpresa ver a senadora reivindicando uma “segurança jurídica” contra as ocupações de terra. A história é outra, contudo, quando se trata da legislação voltada para a proteção do trabalho.

Em relação à NR-31, a norma que regula a segurança e a saúde no trabalho rural, a senadora afirma que “cumprir 252 critérios é muito difícil”. Fiz questão de conferir a norma, que, segundo a Dona Kátia Abreu, tem regras “abusivas e difíceis de serem cumpridas à risca por todos os fazendeiros”, como, por exemplo, a de número 31.18.3, que proíbe a reutilização de água usada no trato de animais para uso humano. A saída acaba sendo, portanto, descumprir algumas normas. Mas e aí, onde fica a “segurança jurídica” do trabalhador?

Os movimentos sociais investem constantemente na defesa da desobediência civil como forma legítima de pressionar pela mudança das leis. A senadora parece reconhecer isto ao afirmar que os proprietários empregadores rurais acabam descumprindo várias normas da NR-31, que deve, assim, ser modificada. Por outro lado, as ocupações para pressionar pela EXECUÇÃO da Reforma Agrária (e não modificação da legislação) são “terrorismo” a ser tratado com mão-de-ferro!

Chegamos ao trabalho escravo defendido pela senadora. Segundo a mesma, qualquer item descumprido na NR-31 pode levar à condenação por trabalho escravo. Ora, se for assim, todo o tempo há trabalho escravo urbano, pois as CIPAs (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes) constatam irregularidades nas empresas a cada hora. É claro, porém, que terei que concordar com ela que o trabalho pode ser considerado escravo se não forem respeitadas regras básicas de segurança do trabalho, que visam garantir o bem-estar mínimo das forças produtivas na reprodução do capital no campo.

A Sen. Kátia afirma que no seu ponto de vista “deveria prevalecer o bom senso”. Bom senso de quem? Obviamente o do empregador, não? Segundo ela, se as instalações forem boas o suficiente para filhos e netos dos proprietários, elas são adequadas para os funcionários. Acho que os trabalhadores da senadora não devem ter sido criados em instalações iguais à de seus filhos, porque se foram eles devem também apreciar cervejas exóticas como afirma fazer Iratã, o filho do meio e presidente da Juventude do DEM de Palmas, em seu twitter. Se tiveram a mesma educação o caso é pior, porque o filho mais velho, Irajá, foi preso no ano passado por desacato à autoridade ao se recusar a retirar seu automóvel do ponto de táxi onde tinha estacionado em Palmas. Este casou no último ano e o evento contou com a participação do Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Gilberto Kassab (DEM-SP), mas não li sobre algum peão da fazenda se fartando na festa.

Minha última impressão linguística retirada da entrevista foi a oposição entre “ideologia” e “ideais”. O termo “ideologia” já vem sendo demonizado pela direita há bastante tempo. Não é de hoje que se escutam pedidos pela não ideologização dos discursos políticos, como se houvesse um pragmatismo possível. Ainda assim, nunca tinha reparado que o termo “ideais” não carrega essa negatividade. Nota mental: ideal é bonito, ideologia é feio!!!

Pra fechar a entrevista – esse texto – resta um trecho de total ignorância histórica da senadora: “... fico orgulhosa quando meu nome é citado [como possível vice de Serra] por eu ser de um estado novo, o Tocantins, por ser mulher e por representar o setor agropecuário, que nunca teve muito espaço nas chapas majoritárias da política nacional”. Como se não bastassem anos de política do café-com-leite, depois mandatos de estanciários gaúchos como Getúlio e Jango, não acho que o Sarney tenha poucas terras no Maranhão. Mesmo o Fernando Henrique não teve uma fazenda ocupada?

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Futebol de Ponta-Cabeça

Talvez o fato de conscientemente valorizar o racionalismo e racionalização façam com que eu acabe muito suscetível às grandes manifestações emocionais coletivas. Foi assim na última semana, com a vitória do Flamengo no Brasileirão. Já tentei racionalizar o sentimento diversas vezes para passá-lo para o papel, mas só consigo sentir. Cheguei à conclusão que a tentativa de racionalização dos meus sentimentos tem me levado cada vez mais a concluir o inevitável: algumas coisas não têm explicação racional ou não deveriam ser explicadas apenas desta maneira para não serem diminuídas.


O título do Flamengo é uma vitória da emoção sobre a razão, como era de se esperar do time da “raça, amor e paixão” – lema que melhor define o clube. Numa época em que a profissionalização e a mercantilização do futebol corroem seus laços passionais, a conquista do Flamengo é uma resistência, mesmo que mínima.


A transformação do Campeonato Brasileiro em uma competição de pontos corridos alijou os clubes cariocas de entrar de verdade nas disputas pelo título. Isto porque se racionalizou o futebol em cima do argumento de que o time com melhor planejamento, melhor elenco, melhor campanha e maior regularidade deveria ser o campeão. Apesar de terem o templo do futebol nacional, os times cariocas trabalham com planejamentos precários de diretorias problemáticas em diversos aspectos. Ainda assim, conseguimos – com apenas dois ou, no máximo, três estádios – médias de público que rivalizam com outros estados que possuem quatro e até cinco arenas.


Os últimos três títulos do São Paulo no campeonato são a prova de que a racionalidade atenta contra a emoção e que a mercantililização avança no futebol. Um clube bem gerenciado, parcerias diversas, estádio de tipo europeu (com bares, lojas...) somaram-se a um time planejado, que não jogava bonito ou com raça, que não tinha grandes craques, mas que era eficiente na regularidade. A associação com o Jason é até boa, mas acho que seria melhor identificar o São Paulo com um robô.


No fim, para mediar a alteridade entre os dois últimos campeões, ainda dá pra apelar para os grandes estereótipos. São Paulo é o time da cidade de São Paulo, fria, produtivista, feia e cinza. O Flamengo é o time do Rio, da malandragem, das cores quentes e da beleza carioca.


Assim, o Flamengo é o antípoda do São Paulo. O campeão só conseguiu estabilizar seu time a partir da 22ª rodada. E ganhou sendo representado por vários nomes que jogaram contra a racionalidade.


O artilheiro Adriano, havia abandonado o futebol, foi condenado por gostar de andar na favela, por faltar o treino e até por queimar o pé. O atacante malandro e festeiro mais uma vez superou a lógica dos jogadores trabalhadores que treinam, treinam e treinam para no fim não fazer nenhum gol.


O maestro Pet chegou desacreditado por todos. Jogador que parecia relutar em encerrar sua carreira, deveria fazer par com o Rubinho na F1 deste ano, mas sem o vice. O sérvio não acreditou na racionalidade e jogou empurrado pela paixão dos milhares que gritavam seu nome.


O comandande Andrade é um antípoda em vários aspectos e um representante da emoção em muitos outros. Primeiro técnico negro a ganhar um título em um país majoritariamente mestiço e que tem como negros como grandes estrelas do futebol. Ele agüentou anos como funcionário do clube, sendo aproveitado em emergências e suportando descartes por outros muito menos próximos do Flamengo. O jeito calmo de quem já teve que esperar muito e as lágrimas em sua estréia contra o Santos no primeiro turno vão contra qualquer esteriótipo de técnico brasileiro, como o Papai Joel, o Renight Gaúcho, o teórico Luxemburgo e os mais ou menos grossos como Murici e Felipão.


Poderia dar vários outros exemplos, como o flamenguista Léo Moura, que explodiu em xingamentos à torcida; o incansável Torozinho; ou o recuperado Zé Roberto. Mas pra mim quem melhor representa este título não é nenhum deles.


O antípoda perfeito é o dono do gol do título. O único Ronaldo que existe pro Flamengo e o único de que a nação rubro-negra precisa: Angelim. Dentro de um futebol que transpira dinheiro por todos os poros, Angelim é um simples operário. Lutador emocionado, que nunca expressou a vontade de ir para a Europa, assinar contratos milionários ou mesmo de ser titular. Sempre foi o primeiro a assumir culpas – mesmo que nem sempre suas – e se colocar publicamente à disposição do clube. O gol do título foi aquele, sofrido, da emoção do Angelim calado, que só sonhou em jogar o futebol apaixonado que tem o Flamengo como ícone.


Por fim, o título é de uma nação por quem se demonstra muito mais paixão do que pelo Brasil. Milhões de pessoas que se sacrificaram para acompanhar o Flamengo e gritar que a festa começou no Maraca!

sábado, 14 de novembro de 2009

De Pernas pro Ar

A vontade de escrever nunca passou e a de ter um blog veio, foi-se e voltou várias vezes, como o “lá e de volta outra vez” do Bilbo. A conjuntura foi favorável à criação e eu não li isto no horóscopo da semana passada! O rascunho veio dessa vontade, fortalecida pelos debates do CEMARX em Campinas, pelos blogs legais dos amigos e pela necessidade... necessidade de falar num mundo que cala.

Fim de semana sozinho na frente do computador e a faísca do tédio começou essa fogueira aqui. Achar um nome – algo que pareceria difícil – foi um maravilhoso trabalho do acaso. Quando o blogspot pediu o nome, suspirei e olhei para o lado, pensando que isso ia ser um sacrifício. O caos desviou meu olhar pro “O Império Universal e seus Antípodas” do Marcos del Roio e, como Adão dando nome às coisas, estava feito!

Agora, uma semana depois, meu olhar está cada vez mais tomado pela particularidade do antípoda. Tanto o é que, ao sentar num sofá de livraria hoje de manhã, meus olhos foram parar no “De Pernas Pro Ar. A Escola do Mundo ao Avesso”, do Eduardo Galeano. Conhecido de todo mundo pelo famoso “As Veias Abertas da América Latina”, que o Obama ganhou do Chávez há um tempo, o periodista uruguaio faz seu trabalho como poucos. Ele integra o pequeno grupo de jornalistas que ainda se esforça em fazer falar a voz calada dos inversos.

Destaco duas espécies de epígrafes do texto, uma do próprio e outra apropriada:

“Há cento e trinta anos, depois de visitar o País das Maravilhas, Alice entrou num espelho para descobrir o mundo ao avesso. Se Alice renascesse em nossos dias, não precisaria atravessar nenhum espelho: bastaria que chegasse à janela.”
(Eduardo Galeano, “Se Alice Voltasse”).

Vão passando, senhoras e senhores!

Vão passando!
Entre na escola do mundo ao avesso!
Que se alce a lanterna mágica!
Imagem e som! A ilusão da vida!
Em prol do comum estamos oferecendo!
Para ilustração do público presente
e bom exemplo das gerações vindouras!
Venham ver o rio que cospe foto!
O Senhor Sol iluminando a noite!
A Senhora Lua em pleno dia!
As Senhoritas Estrelas expulsas do céu!
O bufão sentado no trono do rei!
O bafo de lúcifer toldando o universo!
Os mortos passeando com um espelho na mão!
Bruxos! Saltimbancos!
Dragões e vampiros!
A varinha mágica que transforma
um menino numa moeda!
O mundo perdido num jogo de dados!
Não confundir com grosseiras imitações!
Deus bendiga quem vir!
Deus perdoe que não!
Pessoas sensíveis e menores, abster-se.

(Baseado nos pregões da lanterna mágica, do século XVIII)

sábado, 7 de novembro de 2009

Antípoda

Antípoda (an.tí.po.da) adj (gr antípous, antípodos) Que é oposto; contrário. sm 1 Indivíduo que habita, no globo terrestre, lugar diametralmente oposto a outro. 2 Qualquer ponto da Terra em relação ao que lhe fica diametralmente oposto. 3 Lugar muito distante. 4 O contrário, o oposto. 5 Quím Composto que, em relação a outro estereoisomérico, tem uma configuração exatamente oposta dos seus átomos no espaço. sm pl Os habitantes de um ponto da Terra em relação aos do que lhe fica diametralmente oposto. Antípoda da virtude: os pecadores. Antípoda do tempo: os que trocam o dia pela noite. Antípodas raciais: indivíduos da raça amarela, em contraste com os da raça negra. (Dicionário Michaelis)

Antípoda, como deu pra perceber, é uma palavra grega. Não chego nem perto de saber algo de Filosofia, mas sei que Aristóteles e alguns filósofos gregos acreditavam na doutrina do meio-termo. Não é difícil adivinhar o que é isso, né? Valoriza-se o equilíbrio e a medida, pois assim é a natureza do universo. Portanto, é perfeitamente compreensível pensar que se existem seres neste mundo, devem existir outros fora para equilibrar a balança. Daí surgem os antípodas, os contrários, seres que estavam ligados a suas contrapartes pela sola dos pés, vivendo ao contrário.

A idéia do equilíbrio e dos antípodas continuou bastante importante na história humana. Foi utilizada principalmente para criação e discriminação do outro, que podia ser qualquer um, dependendo dos grupos dominantes e seus interesses. Desta forma, todo mundo que não se enquadrava no tipo de mundo pensado por esses grupos era um antípoda.

O ímpeto pra escrever esse caderno veio da afirmação, muito repetida no senso comum, de que hoje mundo está de cabeça para baixo! Eu até concordo com isso, mas vejo por uma perspectiva invertida. O mundo é que está de cabeça pra cima e há alguns antípodas insatisfeitos que querem bagunçar e rearrumar a casa.


Não tenho a pretensão de usar esse caderno como lista para organizar a arrumação, mas sim expressar a visão de uma pessoa que se sente de cabeça para baixo no mundo e que não se identifica com a idéia da maioria dos indivíduos do planeta.


Benvindos à casa contrária de um antípoda!