sábado, 19 de março de 2011

Bangu ou Guantanamo?


No final da tarde de sexta-feira (18/03/2011), 13 manifestantes foram presos pela polícia carioca em um ato na frente do consulado dos EUA, no centro da cidade, acusados de ataque e tentativa de incêndio ao prédio estadunidente. O ato pacífico foi construído por diversas organizações políticas e se concentrou na Cinelândia, palco de lutas históricas do povo

Após negociar com a polícia que cercava a concentração do ato na Cinelândia e receber permissão para seguir pela rua, o ato se dirigiu até a praça em frente ao consulado dos EUA. Lá os manifestantes do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) se reuniram pacificamente para protestar com suas vozes contra a vinda do presidente Obama ao Brasil, já que a polícia não permitiu a presença de carros de som no ato. Repentinamente, foram surpreendidos pela ação repressiva violenta e covarde dos policiais, que atacaram a reunião com bombas de gás e balas de borracha, perseguindo e prendendo os militantes pelas ruas do centro da cidade.

Dez homens e três mulheres foram presos, incluindo professores, estudantes, funcionários públicos e liberais, um advogado e uma doméstica de 69 anos. Dentre estes, dez pessoas eram membros do PSTU. Após passarem a noite prestando depoimentos na delegacia, os militantes foram mantidos presos sem provas e enviados aos presídios de Água Santa e Bangu, enquanto um menor de idade foi para o Instituto Padre Severino de correção de menores infratores. Acusados por “atirarem um artefato incendiário” no prédio e por “lesão corporal” infringida a um vigilante do mesmo, não foi cedida a possibilidade de fiança e, até o momento, todos os habeas corpus foram negados. O fato se torna ainda mais absurdo após as informações de que os homens tiveram suas cabeças raspadas no presídio.

O juiz que negou o pedido de libertação dos manifestantes afirmou que eles são um perigo para a “ordem pública”, sendo uma ameaça ao presidente estadunidense e possíveis “maculadores” da imagem do Brasil no mundo. Certamente indivíduos que não estão de acordo com a moral do cidadão nacional por não terem assistido as aulas de moral e cívica impostas no período da ditadura militar!

Nenhum dos vídeos do evento mostra o ataque com coquetel molotov que foi anunciado pelos maiores veículos da mídia. Há apenas retratos de possíveis bombas, mas nenhum deles prova qualquer ação violenta dos manifestantes. Sendo bastante possível a utilização deste argumento para uma repressão violenta, como tem sido costume na relação entre movimentos sociais e o governo do Rio do Janeiro. É só lembrar as agressões e prisões registradas na expulsão da ocupação de um prédio público na Lapa, relativamente próximo ao consulado dos EUA.

A mesma mídia burguesa, que festeja a vinda de Barack Obama e os acordos comerciais que ajudam a entregar o pré-sal a empresas americanas, alega que a manifestação não tinha sido aprovada pela prefeitura, sendo, portanto, ilegal e corretamente reprimida pela polícia. Pergunto-me se os manifestantes da Praça Tahrir, no Egito, tinham a permissão do ex-ditador Mubarak para fazerem a revolução popular que o expulsou do governo e do país.

Mesmo que a história, veiculada pela mídia, de que houve um ataque com “artefatos incendiários” que feriram um vigia seja verdade, isto não justifica a investida visivelmente covarde contra os manifestantes. A polícia deveria ter reagido e prendido os indivíduos responsáveis no momento da ação, mas – outra vez, se é verdade o ataque – preferiu agir reprimindo e encarcerando pessoas inocentes.

Adianto que tampouco sou contrário a ações violentas por parte dos movimentos sociais. Não tenho nada contra atirar artefatos incendiários em símbolos do imperialismo mundial. O que não pode acontecer – se é que aconteceu – é que um pequeno grupo faça isso contrariando uma manifestação planejada para ser pacífica, colocando em risco companheiros de luta e ocasionando suas prisões. Isto é uma covardia comparável aquela dos policiais.

Entre os manifestantes presos está um amigo meu e sua esposa, dois militantes do PSTU, que sempre agiram politicamente de forma pacífica e agora estão encarcerados em presídios separados, acusados sem provas de serem “ameaças à ordem pública e à imagem do Brasil”. Voltamos ao período da ditadura militar??? Os EUA agora podem não apenas interferir drasticamente na organização cotidiana de uma cidade, como também coagir os governantes brasileiros a infringir as leis do seu próprio país???

quarta-feira, 2 de março de 2011

Em tempo: "Governo é como feijão, só funciona na pressão!".

Antes da assembleia dos professores, marcada para hoje (02/02), o governador Wilson Martins resolveu ceder à pressão e marcou uma reunião com os representantes do Sinte para negociar um aumento retroativo ao mês de janeiro. O movimento grevista prometeu manter a mobilização até a obtenção de um documento oficial garantindo o benefício.

Genial foi a declaração da presidenta do Sinte, Odeni Silva: “Governo é como feijão: só funciona na pressão!”. Parabéns aos trabalhadores da educação do Piauí!

terça-feira, 1 de março de 2011

Educação do Piauí em Greve

Representantes do Brasil na onda de massas que criou a ponte entre “culturas em choque”, os profissionais da educação em greve no Piauí, resistem como os manifestantes do Oriente Médio e de Madison. Organizados pelo Sinte (Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública), os trabalhadores piauienses iniciaram a greve no dia 14 de fevereiro, exigindo melhores salários e condições de trabalho, e desde então vêm resistindo aos ataques do governador Wilson Martins (PSB).

Num estado que conta em sua capital, segundo estimativas do próprio secretário de educação, com aproximadamente 10% das escolas em situação de calamidade total, cabe aos profissionais da educação a responsabilidade de lutar por condições decentes para os jovens estudarem, uma vez que há escolas tomadas pelo capim, outras com tetos desabando e mais inúmeros problemas. Os valentes trabalhadores do Piauí também tomaram para si, por meio das suas próprias demandas, a reivindicação nacional pelo aumento do piso salarial dos professores, o que levou o Ministério da Educação a apressar a apresentação da nova marca de R$ 1187,97 por 40 horas semanais.

O distinto governador piauiense, todavia, afirmou que não vai adotar o piso salarial e, como de costume nos dias de hoje, disse que não negocia com grevistas. Não satisfeito, alegou que o Piauí tem um dos piores índices educacionais do país e que os professores não mereciam estar fazendo greve e prejudicando os alunos. É claro que estudar em um prédio com infiltração ou sem bebedouros não é um prejuízo para ninguém.

Demonstrando boa dose de bravura, os profissionais da educação resolveram manter a mobilização mesmo após o julgamento da greve como ilegal pelo desembargador José James do Tribunal de Justiça, que estabeleceu multa de R$ 5OOO reais diários para o Sinte.



Todo este movimento de resistência deveria servir de exemplo aos trabalhadores de outros estados e, por minha experiência pessoal, do Rio de Janeiro. Afinal, a última greve (2009) recuou frente às propostas ridículas do governo Sérgio Cabral, que tratou os profissionais da educação de forma extremamente truculenta. Pra quem não lembra, aí vai um cartão postal:



Apesar de oferecer toda a minha solidariedade à luta dos companheiros piauienses, devo fazer uma importante ressalva. No último post, afirmei que os sinais não apontavam para grandes mobilizações sociais no Brasil em 2011, uma vez que havíamos eleito um governo do PT, condenando o país a mais quatro anos de domesticação devido à participação de importantes centrais sindicais e movimentos sociais na base governista. Infelizmente, o que é uma aparente contradição ao que eu dizia, não tem um conteúdo tão contrário assim.

O caso é que o Piauí foi governado nos últimos oito anos por Wellington Dias, político do PT. Durante todo este período, o governo estadual não agiu contra o sucateamento das escolas e tampouco deu aumentos substanciais aos profissionais da educação, mantendo o plano nacional de inserir o ensino na agenda do neoliberalismo (o que é assunto pra outro tópico). Por que, então, o Sinte não fez greve antes, esperando o início tanto deste ano letivo quanto do novo mandato no governo? A resposta é simples, o Sinte é filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores), que faz parte da base do PT.

O importante é que, apesar do oportunismo do Sinte, devemos manter o apoio a qualquer iniciativa dos trabalhadores, pois a vitória daqueles professores é a vitória de qualquer um de nós. Por isto, espero que a Assembleia do Sinte, marcada para amanhã (02/03) mantenha os profissionais parados e mobilizados!!!