Fim de semana sozinho na frente do computador e a faísca do tédio começou essa fogueira aqui. Achar um nome – algo que pareceria difícil – foi um maravilhoso trabalho do acaso. Quando o blogspot pediu o nome, suspirei e olhei para o lado, pensando que isso ia ser um sacrifício. O caos desviou meu olhar pro “O Império Universal e seus Antípodas” do Marcos del Roio e, como Adão dando nome às coisas, estava feito!
Agora, uma semana depois, meu olhar está cada vez mais tomado pela particularidade do antípoda. Tanto o é que, ao sentar num sofá de livraria hoje de manhã, meus olhos foram parar no “De Pernas Pro Ar. A Escola do Mundo ao Avesso”, do Eduardo Galeano. Conhecido de todo mundo pelo famoso “As Veias Abertas da América Latina”, que o Obama ganhou do Chávez há um tempo, o periodista uruguaio faz seu trabalho como poucos. Ele integra o pequeno grupo de jornalistas que ainda se esforça em fazer falar a voz calada dos inversos.
Destaco duas espécies de epígrafes do texto, uma do próprio e outra apropriada:
“Há cento e trinta anos, depois de visitar o País das Maravilhas, Alice entrou num espelho para descobrir o mundo ao avesso. Se Alice renascesse em nossos dias, não precisaria atravessar nenhum espelho: bastaria que chegasse à janela.”
(Eduardo Galeano, “Se Alice Voltasse”).
Vão passando, senhoras e senhores!
Vão passando!
Entre na escola do mundo ao avesso!
Que se alce a lanterna mágica!
Imagem e som! A ilusão da vida!
Em prol do comum estamos oferecendo!
Para ilustração do público presente
e bom exemplo das gerações vindouras!
Venham ver o rio que cospe foto!
O Senhor Sol iluminando a noite!
A Senhora Lua em pleno dia!
As Senhoritas Estrelas expulsas do céu!
O bufão sentado no trono do rei!
O bafo de lúcifer toldando o universo!
Os mortos passeando com um espelho na mão!
Bruxos! Saltimbancos!
Dragões e vampiros!
A varinha mágica que transforma
um menino numa moeda!
O mundo perdido num jogo de dados!
Não confundir com grosseiras imitações!
Deus bendiga quem vir!
Deus perdoe que não!
Pessoas sensíveis e menores, abster-se.
(Baseado nos pregões da lanterna mágica, do século XVIII)